Errol Fernando Zepka Pereira Junior
Senhor, que é o homem para que te importes com ele, ou o filho do homem para que por ele te interesses? O homem é como um sopro; seus dias são como uma sombra passageira. Salmos 144:3,4
O dia 29 de novembro de 2016 tinha tudo para continuar pintado de verde. Chapecoense, o time de futebol de Chapecó, Santa Catarina sendo transportado para a Colômbia, a fim de competir a final da Copa Sul-americana. De repente, o verde chapecoense pinta nosso dia de uma grande mancha preta de luto: o avião cai, deixando 72 pessoas mortas[1]. Quem são essas pessoas? Uma breve pesquisa no Google vai te dar detalhes de nomes, idades, famílias e tudo o mais. Mas um resumo geral seria: jovens entre 20 e 25 anos, cheios de alegria, empolgação, e vida. Quem poderia imaginar a tragédia que ocorreria ao subir naquele avião? O sentimento era de expectativa: vamos para trazer a taça. Todavia, em vez da taça, o que retorna não só para Chapecó[2], mas também para o Brasil inteiro é o sentimento de luto que nos abate e comove.
DE QUE VALEM NOSSOS PLANOS? Recebi a notícia do ocorrido hoje, logo ao acordar, e o sentimento de que me abateu são de que os dias que virão trarão a névoa deixada pela boate Kiss em 2013. O luto, o sentimento de incapacidade. Comecei a então me perguntar algumas coisas: de que valem nossos sonhos, nossos planos? De onde vem esse nosso sentimento de super-heróis, que tudo vai dar certo para nós e que nada impedirá nossos planos? A razão para algo tão trágico ter acontecido nunca saberemos. Eu ouso em dizer que algo assim jamais estaria no coração de Deus. O Deus que tem planos maiores que os nossos[3]. A dor do luto nos rouba sonhos, alegrias, planejamentos, até mesmo nossa identidade.
VIVEMOS PELO QUE? Salomão nos diz que o homem pode até fazer planos, mas que a reposta certa para eles vem do Senhor[4]. Qual é então o sentido da vida? Vivemos pelo que? Onde estão nossos sonhos? Muitas vezes na nossa vida, estamos exatamente como o Chapecoense: subimos no avião da vida carregando na mala nossos planos, sonhos e esperanças. De repente algo inesperado acontece, e o que fica é o sentimento de incapacidade além da confusão na identidade: se eu vivo pelo meu sonho e o meu sonho morre, quem eu sou?
QUAL A PERDA DO NOSSO AVIÃO? Ao escrever esse texto, tenho firmemente em mente qual a perda do meu avião. Nunca me esquecerei dos nove anos de sonhos que me foram roubados na queda do meu avião. Mas cada um entende sua perda e sabe qual a sua mancha de luto na alma. A morte de alguém querido, a doença inesperada, o término do relacionamento, o avião que cai. E ele cai mesmo. Infelizmente, quem consegue contra a lei da gravidade? Ver nossos sonhos despencando do céu é uma dor que jamais acaba, jamais diminui. Com o tempo aprende-se a lidar com a dor da perda. Mas a maior mentira é de que o tempo cura. O tempo não cura, ele ensina-nos a lidar no máximo que pode chegar.
O SOPRO. O sopro tem a força momentânea e violenta de um sopro. Pode ser ao forte a ponto de derrubar uma casa, ou mesmo um leve soprar de velar em um bolo de aniversário. Diferentes forças, mas mesma essência: passageiros. O sopro passa. Você pode até se lembrar de certos sopros mais específicos em sua vida, mas a maioria deles tem a natureza de ser específico. A bíblia chama-nos de vento[5]. Fico pensando em nossa essência: passageira. A estimativa de vida do brasileiro é de 75 anos[6]. O que são 75 anos dentro de uma eternidade? Será que chegaremos aos 75 anos? A maioria dos jogadores do Chapecoense não chegou nem mesmo à metade. Pelo que temos vivido? Será que no final da vida, satisfaremos nossa alma com o resultado?
DO QUE TEMOS NOS LEMBRADO? Somos condicionados à pensar que precisamos estudar, fazer uma faculdade, um bom concurso público e gozar do benefício disso pela vida. Não há nada de errado em pensar assim. Mas será que isso não é desprezar em parte nossa capacidade de fazermos algo e sermos realmente felizes? Ainda Salomão, no final da sua velhice, em Eclesiastes deixa dito: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que cheguem os dias difíceis e se aproximem os dias da velhice em que dirás: “Não tenho mais satisfação em meus dias”!”. O Rei Salomão, o mais sábio e rico rei da existência humana, terminou sua velhice indicando uma falta de satisfação. Sob qual razão? A falta de escolher o que é importante, logo na tenra idade.
Pra mim, Jesus é a razão de existência: Ele se doou por mim, deixou o céu e veio sofrer aqui na terra, a fim de poder construir uma ponte para que tivéssemos relacionamento com ele. Deixá-lo de lado é ignorar o conselho de Salomão. Infelizmente, meu avião caído não tinha a ver com ele, mas com sonhos que eu atribui à ele, e deixei gerar uma marca na minha alma. Tenho certeza que ainda há de mudar minha concepção com relação aos aviões. Infelizmente, hoje, ainda não tenho coragem de subir em um.
Quanto ao Chapecoense. Passado o luto, a estrutura se reorganiza e os sonhos aos poucos voltam aos corações e os pintarão de verde. Quanto à família de cada um dos 72, fica um sentimento de dor eterno, e uma busca de que o Espírito Santo os console em um momento de tanta dor. Quanto a nós, que tivemos nossos aviões caídos, fica o desejo de ver novamente os sonhos brotarem em nossa alma.
[1]http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2016/11/29/chapeco-acorda-rezando-em-clima-de-comocao-com-a-queda-do-aviao.htm
[2]http://dc.clicrbs.com.br/sc/esportes/chapecoense/noticia/2016/11/chapeco-vive-angustia-apos-acidente-com-aviao-da-chapecoense-8538221.html
[3] Isaías 55:9
[4] Provérbios 16:1
[5] Salmos 144:4
[6] http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/12/expectativa-de-vida-dos-brasileiros-sobe-para-752-anos-diz-ibge.html